Coisas de outro mundo

Domingo à tarde, à toa em casa... por que não ver alguma besteira na televisão?
Eis que encontro um desses filmes bobos, futurista, onde daqui a quase um século haveria comunidades humanas vivendo na Lua, com áreas habitáveis de gravidade artificial próxima à da Terra, permitindo uma vida bem parecida com a que conhecemos, inclusive em relação à ganância humana, violência, estes "valores" que carregamos por toda nossa história.

Mas esse momento de ócio, aparente prejuízo, me fez refletir sobre a eterna busca da humanidade por novos lares. Seja para expandir a área de abrangência de nosso poder ou para termos uma alternativa quando esgotarmos todos nossos recursos ou alguma fatalidade acontecer, estamos sempre investigando a existência de lugares que possam nos receber e abrigar, seja neste mundo ou em outros mundos. (Não me saem da mente as imagens da migração de pássaros ou do ataque de alguma praga a uma plantação.)

Pensemos aqui em escala astronômica. Boa parte dos esforços e gastos em pesquisa espacial tem como foco a busca de outros lugares no Universo com condições para abrigar a vida como conhecemos, e até mesmo a busca por exemplares de vida proveniente de outros mundos. Para tanto, a primeira evidência a se buscar num planeta ou satélite sendo estudado é da presença de água, elemento essencial para a vida como a desenvolvida em nosso planeta. Mais ainda, diversas condições devem ser satisfeitas para que ocorra o equilíbrio necessário para a presença de água líquida na superfície de um corpo celeste. A região num sistema planetário que agregue tais condições é chamada de zona habitável. O problema é que esses tamanhos e distâncias num sistema planetário (como o tamanho de um planeta ou a distância deste à estrela que orbita) são imensamente inferiores à distância das demais estrelas até nós. Assim, achar agulha num palheiro vira tarefa simples se comparada a achar planetas em torno de uma estrela, especialmente em zonas habitáveis.

Ainda assim, graças aos desenvolvimentos das teorias físicas e da requerida tecnologia para colocá-las em prática, descobertas continuam sendo feitas e esperanças alimentadas. Este ano já tivemos a confirmação de mais um achado interessante nessa corrida pelas "novas Terras". A NASA anunciou no dia 10 de janeiro o primeiro planeta rochoso descoberto por sua missão Kepler (veja detalhes no artigo da Revista Época ou no artigo original e mais completo, em inglês, no site da NASA).

No entanto, mesmo se eliminarmos o problema da distância até os corpos observados, existem inúmeras outras dificuldades para se chegar a uma conclusão sobre a possibilidade de vida em outro planeta ou satélite natural. Estes, por exemplo, existem em abundância em nosso sistema solar, aqui pertinho, mas ainda assim continuam carregados de mistérios. São também anos e anos de pesquisa e muito dinheiro gasto para se tentar elucidar um pouco melhor as condições atmosféricas, constituição e dinâmica de diversas luas orbitando nossos vizinhos planetas. Vale a pena conhecer, por exemplo, um pouco da história e interessantes descobertas da sonda Galileu, exploradora de Júpiter, e da sonda Cassini, investigadora de Saturno.

Estão aí então alguns exemplos de lugares onde a vida poderia se desenvolver. Mas haveria vida em algum lugar assim? Mais ainda, a assim chamada "vida inteligente"? Isso me traz à memória a polêmica equação de Frank Drake, que promete estimar o número de civilizações comunicantes em nossa galáxia. Esta equação leva em consideração diversos fatores aos quais só se consegue atribuir valores estimados, alguns com certa aproximação; na prática, verdadeiros chutes (veja explicações mais detalhadas sobre cada fator no artigo em inglês). Você pode fazer um experimento: copie a equação e mude alguns valores de acordo com seu conhecimento e julgamento. Você verá que o resultado pode variar de uma fração a centenas de milhares e, mesmo assim, não permite tirar conclusão alguma, a meu ver. Pelo menos a um propósito ela pode servir: nos fazer refletir sobre todos os elementos e grandezas envolvidos nesta simples questão: existe vida fora do nosso planeta?

E existe um planeta pra nos receber se um dia precisarmos fugir daqui? Se existe ou não, permanece a questão. Mas, neste meio tempo, numa boa mistura de capitalismo e sarcasmo, já existem terrenos à venda em outros planetas, para quem quiser se resguardar. Infelizmente, para nós, humanos, parece mais simples pensar em voar para outro lugar, desafiando as leis da física e nossas condições biológicas, do que tentar cuidar melhor do planeta que levou tanto tempo para chegar ao equilíbrio que permite nossa existência, equilíbrio este que estamos destruindo tão mais rapidamente que o ritmo de nossa evolução tecno-científica.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Metaleitura

Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir!

Assuntos proibidos